terça-feira, 27 de abril de 2010

Metade


METADE

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca Porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que triste (...) Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor Apenas respeitadas Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos Porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo. Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito E que o seu silêncio me fale cada vez mais Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço. Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia a outra metade é canção. E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

Um comentário:

Wandréa disse...

Maravilhoso!!
Merece aplausos!!!
=)