segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Nada acontece por acaso


" Schopenhauer, em seu esplêndido ensaio intitulado 'Sobre a aparente intencionalidade no destino do indivíduo', assinala que, quando você alcança uma idade avançada e olha para o tempo de vida que ficou para trás, pode lhe parecer que este teve uma ordem e um plano consistentes, como se concebidos por algum romancista. Acontecimentos que, quando ocorreram, pareciam acidentais e passageiros transformam-se em fatores indispensáveis na composição do enredo. Então, quem compôs esse enredo? Schopenhauer sugere que, assim como os seus sonhos se engendram a partir de um aspecto seu que é ignorado por sua consciência, toda a sua vida é engendrada pela vontade que há em você. E, assim como as pessoas que você teria conhecido por mero acaso transformam-se em agentes importantes na estruturação da sua vida, você também terá servido, sem o saber, como um agente distribuidor de significação às vidas de outras pessoas. O sistema todo movimenta-se e ajusta-se como uma grande sinfonia, em que cada coisa inconscientemente estrutura as demais. E Schopenhauer conclui que é como se nossas vidas fossem as imagens do grande sonho de um único sonhador, em que todos os personagens do sonho sonhassem também; desse modo, tudo se liga a tudo,movido por uma vontade de vida que é a vontade universal da natureza.É uma idéia magnífica. Ela aparece na Índia, na imagem mítica da Rede de Indra, uma rede de pedras preciosas na qual, em cada cruzamento de um fio com outro, há uma pedra refletindo todas as demais. Cada coisa emerge em mútua relação com as outras, de modo que você não pode censurar ninguém por coisa nenhuma. É exatamente como se houvesse uma única intenção atrás de tudo, sempre com algum sentido, embora nenhum de nós saiba que sentido é,nem tenha vido a vida que de fato tencionou viver."

De Joseph Campbell, em "O Poder do Mito".